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quarta-feira, novembro 12, 2008



Foto roubada do Le Divan Fumoir Bohémien. Aparentemente ela foi tirada do livro Des bibliothèques pleines de fantômes de Jacques Bonnet. E antes que me perguntem se são os livros o meu sonho de consumo, eu já respondo - "Nãããooo! É este conjunto inusitado e maravilhoso da obra plena e completa de se colocar uma bela e voluptuosa mulher junto à profusão de livros desta velha estante!" - Isso merece um voluptuoso texto!

A Mão e a Palavra

A palavra percorre o lábio a se morder. A palavra mordida baila, circula, circunda e escorre. Desce pelo corpo, serpenteia. A palavra esquenta, humidece, baila. A palavra percorre o ombro, serpenteando pelo ante-braço. Desce, escorre, molha a pele de suor. A palavra percorre a palma até os dedos, circunda, preenche. A mão agora é o verbo, permeia o espaço, procura a curva. O cheiro é ocre, perfumado. O desenho percorre a vulva. Deleite ao toque, um círculo e outro mais. Um apertar de nuvens vermelhas eriçadas em tez. A palavra suspira, geme, se enche ao toque. Pronuncia o sagrado rasgado em nudez. A palavra toca, o sangue faz voltas. A pele rosácea em espasmo enrubece. A mão e o toque. A pele no corpo. O corpo e a chama. A alma reverbera. A mão toca o lábio. E o o lábio agora é o seio. A palavra inaudita respirando aos passos de um suspiro a gemer. Os dois e agora um. Os livros e agora ela. A mão e a palavra. Agora um, teu seio, rubor, meu livro, a mão e minha lavra.

segunda-feira, março 21, 2005

Um cara que é o umbigo do mundo. Um cara comum, pessoa qualquer, voltado pra si, de papo para o ar, olhando para o alto. Acostumado, o cara a servir das caras e dos rostos, dos gestos e das faces. Servis, em prosélito a lhe servir. Um cara que é o umbigo do mundo, que é o ser humano chupando manga. Idolatrado, com travessas e manjares, nunca amado, e por suposto letrado. Subiu à pedra, sentou-se lá. Do alto, observa o mundo, do alto lhe olham no caminho oblíquo do sol. Em cima do sol, Romildo vê o mundo e embaixo o mundo lhe reveste. De honras, brincos e charme lhe vestem. Um cara que é comum, pessoa qualquer, umbigo do mundo. Mas o mundo era a pedra e a pedra era o mundo, morta a lhe servir. Mas a pedra, que era o mundo, cai-lhe por sobre a cabeça. E a pedra, toda pedra, toda dura, toda pedra matou Romildo. Um cara comum, umbigo do mundo, morto ao chão. Morto de empáfia, e agora cadáver, morto virgem. Virgem da vida, humilde e bela vida.

Mas agora cantam na orla, no umbigo do mundo a estória de Romildo - o cara que sentou numa pedra, que morreu por ela, e amassado suspirou pela vida, chupando manga.

segunda-feira, março 14, 2005



Há de se ter um em torno. Há de se ter um em torno da volta. Há de se ter um - lugar, um marco no plano, mais que retorno. Há de se ter marco no mapa, mais que em torno. Círculo cêntrico, círculo múltiplo em toda a esfera. Ceteris mapas, ceteris mundis, circulus maximus.

Em torno do azul do em todo o laranja, cor em barro de enlameadas mãos. Terras de outrem, terras de mim, circulum máximo, borra-se o plano. toca-se a linha, pés em terra.
A vida é um
circulum minimum, esferas de máximos, em torno dos homens, cruzando rabiscos, à espera do mar. Doce mar.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Vem! Recorta teu salto em grande passo. Vem. Se achegue com a pálpebra aberta. Teus pêlos para mim são sirius, estrelas envoltas em tez. Cala agora teu pulso. Soluça baixinho para te sentir lá dentro. Sou um lápis a te desenhar nas horas internas. Pois então faça-te. Apaga meus lábios com as cores do perdão. Socorre-te a mim resgata. Sou Akanutis, a palavra esquecida que te criou. Mata-me agora, ergue-te. Sofrega-te no meu calor. Sou agora giz e letra viva no teu quarto das horas. Passa-me, esquece-me akanutis, para sempre amada. Solta-me, livra-me, morre-me, fala-me - eu sou agora em ti, dizendo, amém-me.

quarta-feira, setembro 03, 2003




Naquele soluço do tempo, chamado colo de Deus, lhe contaram ser um filme a projeção daquilo que deveria cumprir logo abaixo. E que não se preocupasse, pois o rolo já estava fechado e a luz na tela íngreme iria guiar, e quase sempre, até mesmo empurrar, seus passos para boa cena na fita poder ser. Lhe deram violino e uma pauta e preocupar apenas com a música, que de resto deveria ser bem colada a tudo que visse e cheirasse. Copiou de pronto já umas boas partituras e no bolso guardou a estória de um tal Mozart, menino precoce que encenara o filme da terça. Fechou bem os olhos e já em pouso acordou virado pra baixo como se o inverso do ar fosse a Terra-teto-chão. De pronto, a angústia da perda se fez tão forte, pois das partituras lhe sobrara apenas o tom dobrado em D.

Era uma sexta-feira, 29 de abril de 69, ano de nosso senhor. A mão de sulcos velhos, lhe enroscava os cabelos e tez, como que num agrado lhe pudesse em termo, fazer acordar sem de todo despertar. O amigo ao lado dormia e a voz a inquerir, que dele já não era, em doce apelo acerca do agrado ao show, que de fato tinha sido, mas que agora era um balet sem música num salão de veludo. Quisera estar em Paris, compondo a nota belle elegant para bordéis de neon. Acaso, sorriu, lhe indicaram o vago portão de luzeiro carmim que recebia bem a quantia que podia pagar. Mas que tudo não lhe fazia mais os bugalhos da inversa vida, pois com boa sorte e metade do filme se podia tocar belos tangos e quem sabe à mulher de fartos seios que a seu lado sorria, compor uma cantata e havia pra isso de tudo o seu tempo. A facada aos treze, que na chegada à cidade, da fuga ao campo desatada daria um tom baião de morte e o beijo roubado à Rosalba, naquela tarde de fim de ano faria tremer as cordas na balada doce deixada na língua.


"Ahh..." se lembrando dos tons e de uns sopros inquietos, também um pouco. Levantou-se da mesma, beijou a mulher das mãos, e ao ébrio amigo lhe deu o ombro. Caminho em chuva, quase seis, ainda noite, cantarolou em pedaços, as faixas da trilha em mente. Tentava e tentava, de olhos quase-fechando, colar os cacos da vida em disco. Julgou serem ruídos de LP os buracos que não colavam e postulou ser assim mesmo tais coisas por aqui na cidade. Mal sabia o Ernesto, que por todos lhe chamavam Nesto, serem os buracos o fundo e a orquestra fortuna que a cada batida entoavam os rondós e a tragédia de seus dias. Mal sabiam eles, pensou o Nesto, que meus olhos, que de resto já enxergam a música, repuxaram meu ouvido. E neles, mal o sabem, já posso ouvir pedaços do aceno ao porvir, que ao longe sussurram não ser mais, eu nesse assombro, um vazio a cantar "tragedies no more..."

sexta-feira, maio 16, 2003

E a fortuna conspirada com as nuvens, num arrozoado saber matutino, uniu o magro rapaz chamado Egoísmo à velha e gorda Comodidade como se fosse então um casório de fim de tarde, destes de vila escondida. Os dedos entrelaçados se amainavam um ao outro, segurando a vontade da cama vindoura. Não saíram do quarto, é certo. Ele, paixão pra dentro e olhos nos pés, sorriu como a decretrar novos planos secretos. Ela, amaciado saber, acariciava os cabelos do moço. O esquálido coração se deitou no flácido seio da amada. Barriga aberta e umbigo exposto, Comodidade recebia carinhos em círculos e regorgitava mesas e camas passadas num relembrar de prazer. As peles eriçadas copulavam como ondas. A velha moça, por cordial relutância ao início, abrira suas pernas à lascívia inquieta daquele que era um só querer. Um único toque de cordas vermelhas dedilhava notas sem pudor a cada beijo. O Egoísmo penetrava fundo na aberta Comodidade que a cada investida se dizia sua. E mais, e por tanto o mais ao querido gemer, ao tempo de desmaiar gritara amor. A tarde ia longe e era tarde já o horizonte dos desejos a fazer. Da cantada união, rugiu um filho, em inesperado susto, cujo gritar era uma vazia e inaudita dor. A janela se abriu, um rapaz qualquer, uma moça qualquer se voltam para a rua. E por tudo, olhando o vento e os passos, viram o dia e a morta paixão dentro de si. O rapaz desenhou um círculo na janela enquanto pegava o telefone com a outra mão. A mulher, pés descalços, lambeu a página do livro de si mesma e comprou flores. E a fortuna conspirada com as nuvens, num arrozoado saber vespertino, uniu o magro rapaz chamado rapaz à florida moça chamada moça, como se fosse então um casório de fim de tarde, destes de vila escondida.

segunda-feira, maio 12, 2003

E no terceiro dia de outubro ao norte da cidade de Hersell, foram orar pela morte da palavra. Ao chegar ali, uma virgem, uma prostituta e uma ocupada de pés calçados eram vistas em mármore negro se tocando pelas folhas. A virgem era chamada Helena e morrera ajoelhada pelo frio da espera. A prostituta, cujo nome era Bela, tornada velha empregada, de braços fechados lançou-se num amanhecer. A terceira cujo nome sempre se soube, vivera na boca e na memória de apenas um em Hersell. Cada uma teve seu tempo e glória, carregadas por esperanças, amanheceres e bocas. Na hora, quando todos voltavam os ombros ao horizonte. um ponto cristalino se joga do céu formando o caminho de lágrima nos olhos de Helena. Em bailado marchar, um jornal tocado ao vento vai em cuidado ocupar as vergonhas da moça de calçado pé. Deitada olhando para Deus, virada para o povo de Hersell a última boca de mármore sorri. E da oração pela trina morte fez-se um verso de estertor, partido em quatro linhas de querer, feito poema de criança, ressussitado porvir. As pessoas se foram, as estátuas também.

domingo, março 30, 2003

Escondida, por trás dos ponteiros do relógio, uma velha senhora nos conta para trás, torcendo os dedos no terço de nossos desejos.

terça-feira, novembro 12, 2002

Imberbe. Tropeçava-me encabulado pela procura de tal palavra em minha mente. Era tão bela, tão cândida e ao mesmo tempo tão gozada. Imberbe, imberbe, imberbe... Repetia-me em meu colóquio interior buscando reminiscências. Traços de situações, de passagens, de textos, das imagens do pretérito. E na dança dos imberbes, saltitavam tal qual crianças nas brincadeiras de roda. Daí vinha o gozo. A repetição ora monótona, ora acelerada fazia com que tudo ficasse engraçado. Que diabos de coisa é essa tal de imberbe? Coisa solitária...imberbe era meu passado, perdido entre as crianças alegres espalhafatosas. Mas não é só isso, nem isso? Imberbe eram elas, todas, muitas mas uma só. A infância dividida entre cada um daqueles peculiares serezinhos e única...é isso...imberbe é o singular não solitário. Rodrigo! Rodrigo...

Meu nome suavemente pronunciado e um apertar macio em meu ombro despertam-me de minhas lembranças. - Você não ia sair? - Sim, sim... claro! Me perdoe! Eu estava apenas aqui pensando... - Huum.. Me conta outra novidade. Sua vida é sempre essa: pensar, pensar, pensar... Você poderia variar um pouco e fazer alguma coisa de verdade! O ódio transpirava por minhas mãos! Quem era ela para ficar me empurrando estas palavras? Santo Deus: em qual dia desta minha vida infeliz eu havia lhe dado tamanha intimidade? Gostaria de despejar todos os seus podres ali, agora, naquele mesmo momento. Mas não! Olho em seus olhos; ela percebe uma chispa de minha fúria. Cerro os punhos, fecho meus olhos por um instante, abro-os novamente, caminho lentamente até a mesa, pego o velho casaco e me encaminho para a porta. - Amanhã eu volto... [foram minhas únicas palavras] Ao fechar da tranca, senti como que uma mudança radical. O frio estava cortante. Lá dentro, o ar estava meio carregado com o calor de nossas respirações e o mofo daquelas paredes. Aqui fora estava realmente frio. Fecho os botões do casaco e olho para os lados. Já era tarde, o sol vermelho desmanchava-se por trás dos prédios.

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