★ Flávio Souza Cruz ★

★ D R E A M S ★

★ M A G I C ★

★ F A N T A S Y ★

Mostrando postagens com marcador A Série dos Dias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador A Série dos Dias. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, novembro 10, 2008

Há dias, e amanhã será um deles, em que a balada das horas será um recital a colorir. Acordarei ainda na tintura anil do meu hoje, roubando pedaços de uma nuvem a se esmaecer. Aportarei meus dedos pelo chão. E todo um quê de laranja vou sentir no mastigar de tijolos. Me descubro na transparência do banho. A limpeza abençoará meus pecados da noite — as penas de me curvar à alegria, me fazendo maestro-aprendiz e de me vestir em paletós verdes da poesia. A segunda me preparará o ventre das pedras. Me reconhecerei mortal e escalarei vontades alheias. No amanhã, serei a fantasia de ontem, o reencontrar das palavras de ferro. Mas em tudo, e neste amanhã, invocarei novos tons e prometo a mim mesmo - não fecharei o ponto sem da parede antes deixar minha marca. Uma pixada lembrança ao carcomer do amanhã. Mas hoje direi "não!"... não ainda... novas tintas, somente amanhã! Porque há dias, e o amanhã não é um deles, em que me permito devassado como um codex a se rasgar pelas mãos.

domingo, outubro 26, 2008

Há dias em que me dedico ao café, abençoado seja. Há dias, e este é um deles, em que me dedico a escrever como se meu teclado fosse uma linha de costura. Perfuro a pele remendando pedaços e lembranças. Renego a letargia amiga de sempre empurrando o marrom líquido nas vontades e veias d´alma. Há dias, e este é um deles, em que me vejo coando borras e purificando o querer. Amarro a linha de costura ao coador. Vou traçando novos pontos pelas beiradas. A agulha, essa lembrança pontiaguda, vai tracejando projetos, criando desenhos. É uma dor, devo dizer, mas a tinta faz mancha e sombra... algo como tatuagem nova, um corpo novo bordado em café.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Há dias em que mordemos a borboleta com os lábios. Delicadamente. Um pedacinho apenas, pernas mexendo, corpo vivo. Há dias, e este é um deles, em que apanhamos com o lábio a delicadeza das coisas. Há dias em que a vitrola toca e compomos letras de nós mesmos. Reinventamos, mal fazemos, nos jogamos. Há dias, e este é um deles, em que aperto o vento com as mãos. Reverencio, me curvo, me alegro. Solfejo músicas de bem querer. Sorrio. Há dias em que a borboleta se esconde, bem guardada ao lado da língua. Há dias, e este é um deles, em que as asas se abrem, a cor se veste nas roupas. Subo a rua que descia, desço a rua que subia. Abro o realejo dos causos, toco a valsa dos dentes. Há dias, e este é um deles, em que me visto com as cartas mágicas da adivinhação. A música é rebelde, a borboleta voa, a vitrola toca, o dia é meu.

sexta-feira, maio 27, 2005

Há dias que as palavras não assinam, irrelevantes. Há dias de corriqueiro dormir, corriqueiro almoçar, manifesto repetir. Há dias, e este não é um destes, em que a cabeça se esquece das mãos. O esticar e repuxar dos músculos toma o comando de tudo. Abro os lábios, falo, pronuncio e me esqueço. Eu sei, está tudo lá num lugar das repetições de onde retiro as frases prontas. Os gestos sabidos, às vezes prorrogados na busca do andar das horas. Fechar o ponto, depositar a hora, postar o crédito. Há dias em que as horas assassinam, nos matam por dentro. Nestes, sou Chaplin na engrenagem, descendo e subindo de costas. Na verdade é acordo assinado perante as mãos. O apertar do ritmo pulsante, o estender no ritmo das coisas. E é tudo, ato voluntário, um desapego ao sono, um desemprego forçado do sonho, um ardil pra viver. 


 

quarta-feira, maio 25, 2005

Há dias, devo recordar, em que o sangue costura trapos no aquém da carne. Serpenteada em noites, a trilha vermelha traça canais em meu olhar. Em camadas, ela se faz num mapa de rios dolorosos. Os cílios os escondem reverentes ao soar de um sorriso leve. E cada traço é um rosto, cada traço é um poço de lembranças a fechar. Coloco algodões em meus sentidos, algodões em meus olhos. Abro a gaveta dos anos e manueseio o apagador amigo. Há dias, devo recordar, em que a volúpia jaz ali coagulada. A vontade é um soco, o querer é um nada. Há dias, queira acordar, que no aquém dos trapos, a alma jaz morta e a carne é terna.

Imagem: Nadia Maria


segunda-feira, maio 09, 2005

Há dias em que o começo é um acordar não-verbal. E nestes me incluo ritualmente. Nestes e em tudo me repito vinte quatro horas como um repuxar de parto. Não grito mais, quero dizer - não falo, me recolho. Pois em tudo, quase em prece, aprendi o sagrado gritar do silêncio. As mãos quase se encontram num espalmar beneditino. Os olhos vagueiam enquanto a acentuação se eleva. Interrogo, exclamo, me pontuo em reticências, relembro. Há dias em que o começo é um acordar não-verbal. E nestes me refaço visceralmente. Nestes e em tudo me repito vinte e poucas horas relembrando uma. Não digo mais, quero dizer - não falo, mas grito. Pois em tudo, gesto que me veste, me envolvi ao calado gritar do silêncio.

quarta-feira, maio 04, 2005

Há dias em que me dedico ao suave murmurar do nada. Há dias em que me dedico a olhar o dia passando. E tudo, quase tudo, me parece o gesto do ponteiro repicando segundos. Há dias em que não vejo o sol e há dias em que mergulho na luz dos amperes. Nestes eu me colo ao tempo como uma pintura de Goya. De olhos estatelados, sempre abertos, me impressiono. Eu me assusto suavemente em pálpebras largas. Há dias, e este é um deles, em que meus olhos empalam as fotos da vida. Rasgo as lembranças e amacio as pequeninas coisas. Vejos os contornos, as cores e os tons, bem colados à parede. E os sentidos ocultos se perdem na distância mais oculta. Pois o sentido é dos dias me desfazer dos sentidos. Pois há dias, e este é um deles, em que me desfaço junto à parede.

Postagens mais visitadas

Pesquisar este blog